Esse texto era originalmente uma redação, a última que fiz quando estudei no Colégio Santa Rita, Areia, PB. Fim de 2001, eu terminava o 3º ano científico. A professora pareceu gostar, pois nunca tinha lido uma de minhas redações, em dois anos que foi minha professora, pois ela costumava ler as melhores redações e fazer uma avaliação da nossa forma de escrever. E no seu último dia de aula com minha turma, ela leu as melhores redações mais uma vez, e a minha foi a ultima a ser lida, antes de ela despedir-se da turma, e desejar-nos sorte no vestibular e na vida. Eu modifiquei algo da original, mas o contexto e a história ainda são os mesmos...
Feitiço estrangeiro
Durante a perseguição feita pela igreja a protestantes, ateus, bruxas e etc., na Europa, muitos morreram e muitos fugiram. E o Brasil serviu como refúgio para muitos que precisaram improvisar uma fuga.
Um dos muitos refugiados que vieram para o Brasil foi uma bruxa espanhola conhecida como a Duquesa Dolores. Não era realmente bruxa, mas costumava contestar a igreja católica. Era nobre, e talvez por isso não fosse acusada no começo. Porém as coisas foram mudando, a paciência do clero espanhol começava a se esgotar, e eles acabaram por encontrar um modo de levar a condessa à forca, utilizando de confusas leis para acusá-la de bruxaria.
A Duquesa imediatamente abandonou tudo e fugiu para o Brasil. Lá se instalou na então Capitania do Ceará, escondendo-se numa pequena vila de colonizadores, muito próximo a uma tribo indígena, a Tremembé. Ela teve que viver disfarçada entre os moradores da vila, pois a inquisição também tinha chegado ao Brasil.
Dolores era curiosa por natureza, e ficou maravilhada com a cultura dos Tremembé, tanto que fez amizade com este povo, e passou a conviver com eles. Logo a duquesa fugitiva já se via impreguinada do misticismo daquele povo, e de sua paixão pela terra e pela memória de seus ancestrais. Aos poucos Dolores começava também a homenagear a terra e seus antepassados, através dos rituais que aprendia entre os nativos, e logo foi esquecendo-se do motivo de estar ali.
A comunidade que acolhia Dolores no início incomodava-se de ver a espanhola as voltas com os índios e sua magia, não demorou a espalhar-se o boato de que a estrangeira era uma bruxa. Alguém, logo entregaria a condessa, e assim aconteceu.
Então, a 20 de dezembro de 1735, Dolores enfrentava sua sentença. E no meio da vilinha, em frente á fogueira onde a duquesa havia sido amarrada, e esperava a morte, o inquisidor lia no pergaminho a sentença da estrangeira.
_ Duquesa Dolores de Melilla, acusada de blasfemar contra Deus e a Santa Igreja, poderás alcançar o perdão divino antes de morrer, se aceitares a Deus e negares tudo que proferistes contra a Santa Igreja.
Enquanto o inquisidor lia, o desprezo no coração de Dolores crescia, ela chorava de cabeça baixa, sem entender como o homem podia ser tão cruel. Ao longe, alguns tremembés assistiam impotentes, o sofrimento da mulher.
Ela então levantou a cabeça, cessou o choro e começo a falar:
_ O homem é pretensioso, e não entende os verdadeiros desígnios divinos. Eu amaldiçôo esta terra que me sacrificou e seu povo, viverão através dos séculos sem prosperar, ano após anos passarão por momentos difíceis, e estarão sempre subjugados a vontade estrangeira.
Essas foram as últimas palavras da estrangeira que buscou refúgio na terra de tantas promessas, antes que seu pescoço fosse quebrado e a fogueira acendida.